A leitura na sala de aula perpassa por três realidades: a decodificação de letras e sílabas, a leitura de textos didáticos para fim pedagógico e a leitura para conhecimento de mundo. Todas essas três ramificações leitoras estão presentes na sala de aula e uma sempre aprimora ou aperfeiçoa a outra. Estão interligadas.
A leitura decodificadora é aquela leitura inicial, quando o educando passa a ter contato com as letras, as formas representativas das coisas através das palavras, dos signos e símbolos gráficos. Essa etapa não inicia e termina apenas nas séries iniciais, mas têm continuidade ao longo da Era Escolar, em que o aluno está sempre apto a aprender e apreender novos signos, novos vocabulários, ampliando a sua ‘caixinha’ lexical. Desta etapa pedagógica, aprende-se a decodificar as palavras, possibilitando, dessa forma, uma melhora na etapa seguinte.
Já na segunda fase ou etapa estudantil/leitora, surgem os livros e textos didáticos que têm fins de aprendizagem e aquisição de um conhecimento específico. Nesse momento, encontram-se os livros didáticos, textos trazidos para a sala de aula a fim de que se obtenha um resultado para uma meta específica: aprimoramento de um conteúdo, reforço de um tema estudado em sala de aula, interpretação textual, aquisição de prática leitora. Enfim, essa etapa está mais voltada para a área pedagógica formal.
Porém, a etapa seguinte, a que se propõe a leitura de mundo, estão inseridos os livros literários. Aqueles que estão nas bibliotecas das escolas ou em um canto da sala de aula com o propósito de enriquecer a visão de mundo do educando. Essa etapa deveria ser a mais agradável de todas. Deveria. Mas, muitas vezes, não é.
O que deveria ser um momento de troca, de aprendizagem, de diversão, de prazer, de aquisição de experiências através do conhecimento de novas perspectivas de vida além da que existe na sala de aula, passa a ter um grau de sofrimento para muitos estudantes e pasmem, para muitos professores também. E há um culpado para esse fato?
Há. Sempre há um culpado. Nesse caso há vários.
Essa discussão não está sendo iniciada agora, nesse texto, mas é uma discussão antiga e que envolve toda uma parcela da sociedade e governo. Os culpados. Pois não é uma questão apenas da tia, da professora, dos pais, do prefeito, do governador ou do presidente. Esse é um caso de política familiar e pública. A leitura é uma questão séria e não deve ser tratada apenas como uma simples questão de ‘salinha de aula’. Coisa fútil ou que sirva apenas para preencher o tempo na escola. Ler livros é ler o mundo. E ler o mundo é sério. Provoca, inquieta, balança e modifica o educando/leitor. Transforma uma pessoa que lê em cidadão crítico e político. Um cidadão inserido na sociedade. Portanto, a leitura na sala de aula é coisa séria!
A partir desse tema, serão desenvolvidos outros textos, a fim de que essa discussão não se esvazie em linhas sonhadoras, mas que se estenda em discussões reflexivas e pautadas no crescimento do indivíduo como ser socialmente ativo e participativo.
Publicado originalmente em Artistas Gaúchos/abril, 2013.